Reporte Obrigatório. Porque na vida há viagens e instantes que merecem ser recordados. Para não esquecermos há que os reportar, obrigatoriamente. Mas também para partilhar o antes, o durante e o depois. Com quem fica, com quem foi, com quem vai... Família, amigos ou simples curiosos à procura de inspiração.

17 abril 2011

Chefchaouen - Fez



Neste instante estou inteiramente convicto das dificuldades que enfrento para manter este blog atualizado. O companheirismo e la conversation inviabilizam em absoluto a dedicação exigida para cumprir o prometido.
Todavia, apesar das horas tardias, inscrevo telegraficamente alguns apontamentos para memória futura.


ETAPA Chefchaouen – FEZ    STOP
ESTRADA DE MONTANHA ESPECTACULAR    STOP
MUITOS LARANJAIS, OLIVAIS...    STOP
VOLÚBILIS, RUINAS ROMANAS    STOP
MOULAY IDRIS, CIDADE SANTA AO LONGE    STOP
SIMPATIA DOS MARROQUINOS E CONDUTORES    STOP
CIÚMES DOS COMPANHEIROS A CURTIREM AS CURVAS    STOP
FEZ, CIDADE ENORME E EXTRAORDINÁRIA    STOP
JANTAR NA MEDINA AB-SU-LU-TA-MEN-TE EXTASIANTE    STOP
OBRIGADO CLUBE GOLDWING MAROC    STOP


16 abril 2011

Marrocos Tour 2011

A expedição Guiné-Bissau Tour 2011 ainda não terminou... pelo menos tecnicamente. Na verdade, as motas que regressaram desde Bissau via marítima ainda se encontram retidas no porto de Setúbal... dentro do contentor, ao calor... Contrariedade que estimulou a busca de soluções alternativas para poder participar na viagem a Marrocos com o Clube Mototurismo TAP, uma aventura que começou a ser planeada no verão de 2010. Foram inúmeras as alternativas consideradas. As ofertas de motas de empréstimo superaram a própria procura. Obrigado a todos! A opção final foi encetar esta aventura a bordo do meu Jeep Wrangler, adicionando à organização um suporte contingencial. O mais importante, vamos a Marrocos...

É verdade, é verdade... Este post assoma-se tarde e a más horas. Mas veio, não veio? Ainda que incompleto tenta reportar, obrigatoriamente, os progressos desta nova aventura...

Neste instante já estamos em Chefchaouen, uma cidade com cerca de 45 mil habitantes, localizada nas encostas da Cordilheira do Rif, no norte de Marrocos. Os habitantes locais ainda utilizam o nome original da cidade, Chaouen, que significa "cumes" ou "montanhas", mais tarde rebatizada como Chefchaouen ou "observa as montanhas"... e que montanhas...
Esta cidade azul foi fundada em 1471 e utilizada como base pelas tribos Berberes do Rif nos seus ataques aos portugueses instalados em Ceuta... os malandros... Amanhã, pela manhã, teremos a oportunidade de visitar esta localidade antes de seguir viagem para Fez, a cerca de 300 km a sul. Tentarei então atualizar todos os progressos com maior profundidade, expressão que a estas horas só me lembra o aconchego dos lençóis... Até amanhã.


Obs: em simultâneo poderão acompanhar os desenvolvimentos no link Clube Mototurismo TAP

22 fevereiro 2011

Bissau e regresso a Lisboa


O último dia em Bissau assinalou o fim desta aventura Guiné-Bissau Tour 2011. Para além do merecido descanso, tivemos oportunidade de visitar a capital e maior cidade de Guiné-Bissau, localizada no estuário do Rio Geba, na costa atlântica. O centro, onde fica localizada a Residencial Coimbra, patenteia aspectos inconciliáveis com algumas novas infraestruturas modernas, como a nova assembleia do povo, a nova sede do Banco dos Estados da África do Oeste ou o novo Hospital... na verdade, muitas das ruas e avenidas não estão asfaltadas e inúmeras propriedades estão largadas ao abandono. O lixo também se amontoa, aqui e ali... No entanto, os bissau-guineenses são simpáticos e afetuosos, sugerindo mesmo terem saudades de outros tempos...
O almoço ocorreu no complexo Mar Azul, a cerca de 35 km de Bissau, junto a um braço de mar que entra terra dentro, mais próximo do Arquipélago dos Bijagós. Foi agradável, mas... como de costume, muito demorado. Umas ostras saborosas e um bife à portuguesa restauraram-nos o vigor, apesar da elevada temperatura e humidade que se faziam sentir. Por pouco, não conseguíamos chegar a tempo de comprar umas recordações típicas de Guiné-Bissau...
De malas feitas, fomos muito cedo ao Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, a 8 km do centro de Bissau, fazer o check in, para só depois ir jantar ao Kalliste. Por esta altura já só aguardávamos a hora do embarque... A sobreposição da vontade de ficar com a de partir dissipava-se à medida que chegavam as 02:30, ETD do voo TAP200, A320, com destino Lisboa... Ainda deu tempo para uma curta visita à Torre de Control. Um abraço Lassana...
Depois de viver procedimentos de segurança completamente dispares e manifestamente insuficientes relativamente ao padrão europeu, sentado num lugar que também havia sido atribuído ao Mauro, descolámos... Deixámos para trás uma cidade que vive à custa de geradores a gasóleo e, àquela hora tardia, a julgar pela quantidade de luzes acesas, descolávamos de uma aldeia...
Um dia, vou regressar... Prometo.

Cap Skiring (Senegal) – Bissau (Guiné – Bissau)


Hoje acordei e despertei... Última etapa da aventura Guiné Tour 2011. Um conjunto de sentimentos desarrumados impediam-me a perceptibilidade do que estava realmente a sentir. Alguma ansiedade pelo anúncio do fim de uma longa calcorreada conflituava com a emoção e a satisfação de estarmos a poucas horas do nosso destino final, Guiné-Bissau... Aliás, esta desordem de antagonismos acompanhar-me-ia até ao meu regresso a Lisboa, via aérea.
Deixámos Cap Skiring por boas estradas senegalesas... As pistas percorridas no último dia de aventura foram sempre uma opção voluntária do staff para temperar a etapa... Os poucos km off road valeram bem a pena, motociclista e paisagisticamente falando. Mas o primeiro way point foi a carrinha da MotoXplorers paralisada em Ziguinchor, a cerca de 60 km de Cap Skiring. Depressa todos nos apercebemos que não seria fácil chegar a Bissau pelos seus próprios meios. O Carlos ficou para trás a solucionar a questão enquanto que as motas prosseguiram viagem, desta vez quase sempre em grupo...
A região sul do Senegal revela-se mais arranjadinha do que a região norte, ou mesmo da Gâmbia. Quase que me atrevia a falar de alguma organização das coisas em geral... quase... A paisagem, essa, continua a surpreender... Agora as palmeiras dominam a paisagem sobretudo nas descontinuidades de floresta junto aos cursos de água, onde os mangais predominam. Aqui e ali, algumas vacas ou cabras e de quando em vez algum animal exótico ou pouco comum. Muito esquivos e tímidos... Pelo contrário as crianças, sobretudo as crianças, continuam a fazer uma festa à nossa passagem. Só no Senegal contei pelo menos umas 3.421 crianças que agitaram as mão em sinal de adeus... sempre a sorrir...
Num instante chegámos à fronteira do Senegal com a Guiné-Bissau. Do lado Senegalês as formalidades foram relativamente céleres e pela primeira vez ouvimos alguns locais a falar português. Mesmo não sendo inesperado é surpreendente... Na verdade, a Guiné-Bissau foi uma colónia de Portugal desde o século XV até proclamar unilateralmente a sua independência em 1973. A população da Guiné-Bissau é constituída por mais de 20 etnias, com línguas, estruturas sociais e costumes distintos. Apesar da língua portuguesa ser a língua oficial, as línguas mais faladas são o fula e o mandinga, sendo o crioulo a língua veicular interétnica. Assim, é normal encontrar cidadãos bissau-guineenses com dificuldades na oralidade da língua portuguesa, sobretudo fora da capital, Bissau.
Mas o melhor estaria para vir... Já do lado guineense, enquanto tratávamos das formalidades, fomos surpreendidos pela coincidente presença de um elevado número de representantes governamentais e outras autoridades políticas. Entre ministros, governadores e outros representantes, as personalidades eram inúmeras. Com facilidade também as sumidades se aperceberam da presença do nosso grupo de portugueses motociclistas... damos sempre nas vistas...
Sem me aperceber muito bem de como tudo se passou (estava por ali na tagarelice com alguns locais), encetámos os cumprimentos protocolares ao nível de autênticos e oficiais representantes nacionais. Todos em filinha, como nos jogos de futebol, a trocar apertos de mão, apresentações e alguns comentários ocasionais... Subitamente, a meia distância entre o Equador e o Trópico de Câncer, sob a influência de um característico clima tropical, quente e húmido... e acreditem que estava mesmo muito calor... quase 40 graus... senti um calafrio... De onde viria aquela sensação de frio interior por todo o corpo, acompanhado de um leve tremor?... Que desordem emocional...

Depois de sair do Senegal, país que amei, estreava-me numa nação, Guiné-Bissau, que para além de anunciar paisagens igualmente extraordinárias, é hoje um estado irmão... onde, cumulativamente ao temperamento acolhedor, muitos falam português. Até onde iria a herança dos portugueses colonizadores? Até que nível ainda subsistem saudades dos ex-colonizados pelos descendentes dos antigos dominadores?...
De novo na estrada e a um ritmo lento, de como alguém que espreme a laranja até à última gota, estávamos de novo a caminho de Bissau. Boas estradas... bela paisagem, grande recepção da população, sobretudo dos jovens... Almoço em Ingoré. De forma não totalmente inesperada surge o tópico de futuras viagens. O regresso ao Senegal e a Guiné-Bissau granjeia apoiantes com muita espontaneidade, matéria que estabelecerá motivo de publicação de um post específico, em breve...
Apesar de tentarmos retardar a chegada a Bissau, com inúmeras paragens para algumas fotografias e conversas com os bissau-guineenses, depressa nos acercámos da capital, Bissau... não sem antes transpormos os rios Cachéu e Mansôa, com a particularidade de possuírem estruturas de cobrança pela utilização das pontes... Não deixa de ser estranho tal apetrechamento numa das nações menos desenvolvida do globo e entre as 20 mais pobres do mundo.
A entrada em Bissau divulgou uma cidade em reconstrução, lenta... muito lenta... As construções novas são raras e intercalam edificações deixadas pelos antigos colonizadores, quase sempre sentenciadas ao abandono ou num estado muito deteriorado. Encostadas a estas estruturas, numerosas barracas de madeira e chapas de metal completam o enquadramento. Porém, a população que alegra as ruas e avenidas da urbe são simpáticas e afáveis. Os cumprimentos, acenos de mãos, sinais de luzes em sinal de saudação e as anuências às ultrapassagens, multiplicam-se... Somos bem recebidos, sem dúvida.
Check in na Residencial Coimbra, seguido de jantar no restaurante com o mesmo nome e cafézinho na esplanada do hotel Kalliste. O tema das conversas foi sempre dominado pela nostalgia de termos chegado ao fim, mas satisfeitos por tudo ter corrido bem. Entretanto já o Carlos tinha chegado depois da carrinha da MotoXplorers ter sido rebocada à corda desde o Senegal. Grande aventura essa, sobretudo a entrada em Bissau em hora de ponta... 

18 fevereiro 2011

Cap Skiring


Dia dedicado ao descanso, mergulhos no mar ou na piscina... e, claro, grande oportunidade para, pela primeira vez, conduzir a GS na praia, na areia dura... É mesmo muito agradável...

Relativamente à contrariedade da avaria da carrinha de suporte da MotoXplorers, o problema vai ser ultrapassado transportando-a até Guiné-Bissau. Depois logo se vê...
Amanhã arrancamos para a última etapa desta aventura. Uma circunstância que combina sentimentos contraditórios. Evidentemente que de exultação, mas também de algum desgosto por estarmos a chegar ao final... já a pensar na próxima... em África, claro...

Tendaba (Gâmbia) – Cap Skiring (Senegal)


Iniciámos esta etapa a percorrer em sentido contrário a pista que nos conduziu ontem ao Tendaba Camp. Novamente na fronteira com o Senegal, a reentrada neste país só foi possível depois de conversations com o big boss desta região. Tratou-se de uma operação de charme a pedido das próprias autoridades locais para seduzir a MotoXplorers a programar o destino da próxima expedição humanitária para a Gâmbia. Na verdade, a Guiné Tour 2011 insere-se num vasto programa da Atlas, organização humanitária não governamental. Acabou por ser relativamente rápida a transposição da fronteira e só depois da fotografia de grupo prosseguimos viagem...


Assim que reentrámos no Senegal do sul, as estradas melhoraram claramente. Há, positivamente, diferenças significativas com o Senegal ou a Gâmbia que visitámos antes... O controlo policial e militar intensifica-se, porém quase sempre sem demoras exageradas. A vida animal e vegetal, essa, surpreende, mais e mais... As termiteiras, construções extraordinárias que constituem enormes formigueiros dos insectos isópteros, dominam a paisagem por vários km... As árvores A palabre destacam-se na paisagem pela sua altura e volumetria. As demoradas discussões ancestrais terão tido lugar à sombra destas gigantes, daí a designação... A determinada altura um bando de macacos atravessa a estrada... Aves coloridas desafiam a sua sorte rasando as motos em movimento, agora num ritmo mais acelerado... Provámos crocodilo. Não fiquei fã... Mas gostei da visita ao cativeiro daqueles répteis...



A estrada progride sempre muito perto do Rio Casamance o que influencia, naturalmente, a paisagem... Os mangais  aqui proliferam...
Nas minhas inúmeras paragens, às vezes demoradas, ouvi sons únicos provenientes da floresta que adquiriam novo significado sob a influência de quase quarenta graus... Simplesmente fa-bu-lo-so...


Eis que surge um imprevisto... A carrinha de apoio da MotoXplorers teve uma avaria a cerca de 60 km do goal, Cap Skiring, Hotel Les Paletuviers... Até ao momento o Carlos e o Enrique ainda tentam solucionar o problema, ao que tudo indica, ao nível da bomba de alta pressão. Tão perto do destino final, Guiné-Bissau, a pouco mais de 200 Km... vamos ver...



Na chegada ao Hotel desfrutei de novo da Terranga... um grupo de empregados das instalações preparava um chá senegalês... mesmo muito saboroso. Boas acomodações capazes de nos proporcionarem um dia de repouso oportuno...

Toubakouta (Senegal) – Tendaba Kwinella (Gâmbia)


A noite em Tendaba, no Hotel Africa Strike, revelou-se reconstitutiva do vigor imprescindível para a etapa de hoje. Aguardava-nos a transposição de mais uma fronteira africana, desta vez do Senegal para a Gâmbia... Tendo em consideração as experiências anteriores, a persistência e a tenacidade têm de estar à altura do desafio. Todavia, o nosso repouso não ficou isento de perturbações. Na verdade, a meio da noite todos os animais da selva escolheram o nosso quarto, triplo, para uma reunião de condomínio... A ausência de consenso exaltou os ânimos com a consequente reprodução de fragores desorientadores. Para evitar retaliações, não posso mencionar o espécime mais ruidoso, mas posso acrescentar que partilhava o quarto com o Mauro e o Henrique Marinho... e até agora nunca fiz qualquer alusão a desassossegos anteriores...

Depois do pequeno-almoço aproveitámos o facto de o hotel estar inserido no Parque Nacional do Delta do Rio Saloum para um pequeno passeio pedestre até às suas margens. Coincidentemente, um grupo de algumas dezenas de locais preparava-se para embarcar em pirogas para regressar à sua ilha natal depois da peregrinação a Tivaouane. La conversation foi inevitável... e mais uma vez pude constatar a receptividade e gentileza congénitas dos senegaleses. Até houve lugar a troca de contactos telefónicos... sim, porque hei de voltar ao Senegal...

Esta foi uma etapa verdadeiramente africana. Rolámos sempre em off road pela África profunda. Estabelecemos contactos com os habitantes de aldeias isoladas... tateei as cabeças de dezenas de crianças que povoam este território... senti-lhes os sorrisos... familiarizei-me com alguns costumes e práticas ancestrais... senti o calor africano, abrasador... o pó vermelho, fino... a areia branca sempre presente nos trilhos... notei animais e ouvi sons que ignorava...




Os poucos km percorridos em asfalto, excessivamente degradado, fizeram-nos desejar o regresso às pistas... a ambiência natural para a GS, em África...
Chegámos cedo à fronteira com a Gâmbia (Keraibi – Farafenni). As formalidades, embora demoradas, afiguraram-se mais acessíveis... ou estaremos já adaptados... Já na Gâmbia, aprendemos o que é a Terranga, a solidariedade ou a fraternidade característica desta região de África, em que o chá ou o alimento são partilhados com os presentes, mesmo com os branquiçelas... Almocei com os guardas fronteiriços dentro da barraca que lhes oferece abrigo, sentado em redor de um grande recipiente metálico. Comida picante e muito saborosa... Comi com a mão... fazem-se os bolinhos de arroz e mistura-se carne e legumes... Terranga...
Algumas horas mais tarde, entrámos na Gâmbia por uma pista que nos conduziu ao ferry que atravessa o curso inferior do Rio Gâmbia. Acredita-se que o nome deste país, o mais pequeno de África, derive da palavra câmbio, em referência ao comércio português de escravos e especiarias realizado na região no século XVI. A língua francesa cede à língua inglesa que predomina... mas tudo o resto não evidencia diferenças relevantes que diferenciem este pequeno país do Senegal... pelo menos neste curto reconhecimento...

Os inúmeros controlos policiais e militares obrigaram a paragens sucessivas e por vezes demoradas, que retardaram a chegada a Tendaba Camp. Mas, claro, constituíram sempre oportunidades para sentir o pulsar de África...
Os últimos quarenta km, com o pôr do sol no horizonte, foram feitos em duplas devidamente distanciadas para evitar a nuvem de pó vermelha deixada para trás pelos outros companheiros de viagem. Pista boa a permitir boas velocidades e novas sensações. O suor misturado com o pó vermelho... máscara de lama... Foi uma etapa dura... 
Chegados ao goal ficámos instalados em bungalows à beira do Rio Gâmbia... qualidade sofrível... arrefeceu à noite, acordei gelado mas revigorado...